OPINIÃO - Política industrial de Lula repete estratégias que o governo não reconhece que já deram errado

Países que tiveram êxito deram ênfase em produtividade, portanto, formação de capital humano, e capacidade de competição

Nova política industrial brasileira usa ferramentas já testadas em governos anteriores, sem foco em produtividade e formação de capital humano. | 📷 Ricardo Stuckert/PR

A recém-anunciada política industrial do governo foi chamada de velha pelo próprio Lula antes mesmo de começar, mas o problema não é ser uma ideia antiga. É não se conseguir entender o que aconteceu com o que já se tentou.

Na leitura que Lula faz do passado recente, tudo ia maravilhosamente bem até a derrota “das elites” na eleição de 2014. O esperneio de derrotados inconformados juntou-se à Lava Jato (e aos ianques) e tramou-se então o golpe que interrompeu o caminho natural das coisas, o da permanência indefinida do PT no poder.

Nessa visão histórica, não eram as políticas públicas que estavam equivocadas. Faltou tempo (devido à interrupção causada pelo golpe) para sua devida implementação. Nessa forma de se ver as coisas foram fatores puramente políticos que impediram, por exemplo, que dessem certo projetos como incentivar a indústria naval ou construir refinarias monumentais.

Pelo jeito, Lula considera as condições políticas atuais adequadas para seu intento de reparar injustiças, que vão da “reabilitação” de reputações pessoais (a dele e de vários personagens à sua volta, como Dilma e Mantega) à aplicação de seus conceitos de política externa, social ou industrial. Ele o faz ignorando o grau de resistência social e as decisivas mudanças nas relações de poder entre Legislativo e Executivo.

O problema para a “nova velha”política industrial não é a questão do Estado ser o indutor, mas que tipo de estratégia o Estado escolhe. No lançamento da atual “nova velha” política, fez-se o uso surrado dos exemplos de Japão, Coréia do Sul e Alemanha. Cada um ostenta características próprias, além de seus contextos históricos e geopolíticos.

Relevante para todos, e aí se poderia incluir também Estados Unidos, China ou Israel, entre outros, foi a ênfase colocada em produtividade (portanto, formação de capital humano) e capacidade de competição. Especialmente esse último fator, o da competitividade, foi entendido por esses países como condição essencial da própria sobrevivência diante não só de adversários comerciais mas, sobretudo, geopolíticos.

Essa compreensão é uma função de elites políticas e econômicas. As do Brasil têm escassa capacidade de articulação estratégica em escala nacional. Para existir entendem que têm de navegar num ambiente de negócios péssimo, no qual é essencial a proximidade com instituições e agentes de um Estado balofo, perdulário, ineficiente e incapaz de raciocínio estratégico. A postura dessas elites acaba sendo defensiva e em busca de proteção.

Lá vamos nós, então, brigar de novo com consequências.


Por William Waack/Estadão

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