As manifestações de massa do último domingo em São Paulo dividiram o PT, basicamente, em dois lados. Um lado, quase sem ninguém, que não abre mão do seu direito de pensar. Outro lado, com quase todo o resto, que não consegue mais viver no mundo tal como ele é. Estão intoxicados com a mesma ideia fixa de Lula: tudo neste mundo e nesta vida se resume hoje a uma “narrativa”.
O que de fato acontece, segundo essa obsessão, não aconteceu. Só pode acontecer o que a “narrativa” diz que está acontecendo. É por conta disso que se deram a obrigação de acreditar só no que lhes dizem para acreditar – e de ver diante dos seus próprios olhos só o que a “narrativa” permite. É o caso da manifestação de massa que acaba de acontecer em São Paulo. A maioria do PT nega que tenha acontecido.
Mas a imensa maioria do PT, da esquerda e das classes intelectuais mergulhou sem pensar num negacionismo exaltado. Decidiram, antes mesmo de a multidão ir para a rua, que a manifestação já tinha fracassado. Depois, com vídeos e fotos mostrando pelo menos dez quarteirões inteiros forrados de gente na avenida, continuaram a dizer que deu tudo errado. Virou uma neura.
Falaram de tudo. A manifestação fracassou porque o Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes – e a maioria deles não estava na Paulista, como se houvesse a possibilidade física de estarem. Nada disso vai adiantar nada – “o Xandão” vai prender Bolsonaro, e aí tudo estará resolvido. O mais cômico de tudo, possivelmente, foram os cálculos de um professor da USP assegurando que houve só “185 mil” pessoas na manifestação. Professor de que? De “políticas públicas”.
No passado, foi um defensor aberto do terrorista italiano Cesare Battisti, condenado por quatro homicídios e hoje cumprindo prisão perpetua na Itália. Seu número, aparentemente, saiu de “algoritmos”; para a esquerda virou informação “científica”. Não ocorreu a nenhum deles fazer a única pergunta possível: “E daí?”. Qual a diferença que pode haver entre os 185 mil do professor e os 750 mil do cálculo feito pela PM de São Paulo – ou qualquer número entre um e outro? O que aconteceu na vida real foi a maior manifestação de rua dos últimos dez anos, e essa manifestação foi contra o governo. A esquerda decidiu que não houve.