Na TV, presidente explorou anúncios já realizados do Farmácia Popular e do programa Pé-de-Meia para tentar se reabilitar

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. | 📷 Reprodução/Presidência da República
Ao ir ao ar na noite desta segunda-feira, 24, para um pronunciamento em cadeia obrigatória de rádio e TV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quebrou um padrão de suas aparições, deixando pouca margem de que o objetivo era socorrer-se de medidas populares às pressas em busca de uma melhora na avaliação de seu governo. Até a noite desta segunda, Lula tinha ido ao ar outras seis vezes. Seguindo sempre a mesma lógica, comum também nos mandatos anteriores: pronunciamentos para o Dia do Trabalho, o 7 de Setembro (duas vezes) e o Natal (duas vezes), além de uma pronunciamento especial de 18 meses do mandato.
O pronunciamento desta noite foi feito sem qualquer data comemorativa. Também foi o primeiro a dividir a rede de rádio e TV. Nas telas, durante a noite. No rádio, pela manhã no dia seguinte. Nos dois casos, no horário de maior audiência. Em especial, aquela do público mais pobre. O objetivo, mais que informar a população, era atingir mais fortemente o eleitor.
Um grupo em específico, o que pode ser notado com o uso de termos mais populares. O presidente exaltou o “Farmácia Popular” e o “Pé-de-Meia” com referência a uma “dupla sertaneja”, em um esforço para ser o menos formal possível. “Olha que legal”, disse em certo momento. “É tudo de graça”, disse em outro.
Foi sem qualquer dúvida uma peça de marketing, muito mais do que um comunicado à população. E exatamente por isso usou imagens de corte, cenas emocionantes de atores reproduzindo momentos com referências aos programas, enquanto o presidente falava em seus pouco mais de dois minutos no ar.
A própria escolha dos temas indica que o governo percebe as dificuldades que tem para se comunicar. O anúncio da gratuidade dos 41 itens do Farmácia Popular, incluindo fraldas geriátricas e uma série de medicamentos, já havia sido feito pela virtualmente demitida Nísia Trindade. Que talvez até mesmo por já saber que estava sendo fritada fez questão de anunciar a novidade, ela mesma, no último dia 13, em um evento de prefeitos.
Já o Pé-de-Meia é devolvido à discussão na véspera do primeiro pagamento aos estudantes. A pauta, popular, lançada por meio de um projeto de lei da deputada Tabata Amaral que o governo encampou, já vinha sendo explorada pelo presidente em seus últimos discursos e entrevistas. Correu o risco de ser suspensa após uma trapalhada orçamentária do governo mas, com o aval do TCU e a garantia de que o dinheiro vai começar mesmo a ser depositado, Lula percebeu que era hora de, enfim, capitalizar a boa notícia.
Esse deve ser um padrão do governo de agora em diante. Se desde 2023 seus ministros foram 12 vezes à TV para anúncios, contra metade disso do presidente, agora será Lula a cara de cada boa notícia. É a eleição de 2026 que já começou. Com as vantagens do uso da máquina que quem está no poder sempre soube saborear.
Veja o pronunciamento:
Por Ricardo Corrêa/Estadão