Potencial alvo do Irã, a usina nuclear de Dimona, fora de qualquer controle internacional, concentra material suficiente para dezenas de ogivas nucleares. Sua destruição poderia desencadear um desastre radiológico e geopolítico em todo o Oriente Médio.

Usina de Dimona é alvo estratégico e pode colocar todo o Oriente Médio em risco. | 📷 Ilustração por IA com pessoas correndo de uma explosão
A crescente tensão entre Israel e Irã reacendeu discussões sobre os riscos de um eventual ataque à Usina Nuclear de Dimona, oficialmente denominada Centro de Pesquisas Nucleares Shimon Peres Negev. A instalação, localizada no deserto de Negev, ao sul de Israel, é uma das mais sigilosas do mundo e considerada essencial no suposto programa nuclear militar israelense.
Segundo dados da Universidade de Princiton – EUA, a usina pode já ter produzido material suficiente para a montagem de pelo menos 160 ogivas nucleares, mas esse segredo é guardado com sigilo absoluto pelos israelenses.
Ao contrário de usinas de geração elétrica convencionais, Dimona atua com foco em pesquisa nuclear e na possível produção de plutônio com fins bélicos. Por isso, qualquer ofensiva militar contra o complexo não só teria impacto imediato nas capacidades militares das Forças de Defesa de Israel, como também poderia desencadear uma catástrofe de proporções regionais — sanitária, ambiental e geopolítica, com potencial para atingir logo de início mais de 10 milhões de pessoas, que é o número estimado da população no país. A usina fica apenas a cerca de 32 quilômetros da fronteira com Jordânia, o que leva as possíveis consequências para além de Israel.
Instalação confidencial e fora do TNP
Israel não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), e a última inspeção internacional no reator de Dimona ocorreu em 1969. Desde então, não há registro de monitoramento externo das atividades no local, o que dificulta estimativas confiáveis sobre os materiais manipulados e os protocolos de segurança adotados.
Estudo técnico publicado em 2018, na universidade de Princeton (EUA), intitulado Estimating Plutonium Production at Israel’s Dimona Reactor, estima que o reator do tipo HWGCR (Heavy-Water Gas-Cooled Reactor), semelhante ao modelo francês EL-03, pode ter produzido aproximadamente 800 kg de plutônio, com margem de erro de 125 kg. Essa quantidade é suficiente para fabricar dezenas de ogivas nucleares, o que eleva significativamente os riscos caso haja rompimento das estruturas do reator.
Além do reator, o complexo de Dimona inclui:
- Planta de reprocessamento (Machon 2): Extração de plutônio e trítio; possui seis andares subterrâneos.
- Produção de trítio: Através da irradiação de lítio-6 (Li-6), com estimativas de produção de até 20 g/ano em operação dedicada.
- Produção de urânio metálico e enriquecido: Há indícios de uso de centrífugas e lasers para enriquecimento de urânio desde os anos 1980.
- Fabricação de componentes nucleares: Incluindo “botões” de plutônio para ogivas, com reaproveitamento de material perdido na produção.
Riscos radiológicos imediatos e prolongados
A explosão da usina — seja por ataque de forças inimigas de Israel ou acidente — resultaria na liberação de material radioativo de alta periculosidade, como plutônio e urânio enriquecido. O impacto incluiria a contaminação atmosférica com partículas radiativas, atingindo áreas populacionais muito além das fronteiras de Israel, a depender dos ventos e das condições climáticas.
Além da exposição direta à radiação, os efeitos secundários possivelmente incluiriam:
- Aumento de casos de câncer, especialmente leucemia e câncer de tireoide;
- Malformações congênitas e infertilidade em várias das gerações seguintes;
- Contaminação de aquíferos e solos agrícolas, comprometendo o abastecimento hídrico e alimentar na região
- Evacuação forçada de cidades inteiras e criação de zonas permanentemente inabitáveis.
Consequências militares e estratégicas da destruição da usina de Dimona
Além do colapso sanitário e ambiental, a destruição da usina de Dimona provocaria um choque na ordem militar regional. Um ataque ao reator poderia ser interpretado como agressão de alto nível, com potencial de justificar retaliação nuclear por parte de Israel — mesmo sem confirmação oficial de que o país detém esse tipo de armamento.
Além da explosão em si, a dependes das condições meteorológicas a situação poderia levar à necessidade de deslocamento de populações inteiras em um país que não tem uma extensão territorial tão grande.
O cenário elevaria o risco de escalada para um conflito de proporções inéditas, envolvendo não apenas Israel e Irã, mas também outras potências regionais e globais. Além disso, um incidente desse porte estimularia uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio, colocando em xeque os esforços internacionais de controle de armas e de prevenção à proliferação.
Falta de protocolos internacionais
A confidencialidade que envolve a operação da usina de Dimona também representa uma grave lacuna em termos de segurança global. Sem inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) desde os anos 60 e sem divulgação de dados técnicos, não há planos de contingência coordenados com a comunidade internacional para conter os efeitos de um acidente ou ataque.
Além disso tudo, não há clareza sobre os tipos de radionuclídeos e isótopos manipulados, nem sobre o volume de material estocado. Essa ausência de transparência compromete qualquer resposta emergencial e coloca milhões de vidas em risco no caso de um ataque contra as instalações.
Um dos pontos mais perigosos do planeta
A usina nuclear de Dimona é, hoje, um dos pontos mais sensíveis do cenário estratégico global. Um ataque à instalação não resultaria apenas em danos à infraestrutura israelense, mas colocaria todo o Oriente Médio em risco, com consequências que poderiam durar décadas.
Mais do que uma questão de soberania nacional, trata-se de um tema de segurança coletiva internacional. Proteger instalações nucleares civis e militares de ações ofensivas deve ser uma prioridade comum, independentemente de alianças ou disputas políticas.