Apoio esmagador ao ministro Amaral e rejeição ao pedido de perdão expõem tensão dentro da Justiça Militar da União
Discussão entre ministros do Superior Tribunal Militar expõe racha na corte. | 📷 Fotomontagem: Revista Sociedade MilitarO pronunciamento do tenente-brigadeiro do ar Carlos Amaral, ministro do Superior Tribunal Militar (STM), contra o pedido de perdão feito pela presidente da corte, ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, provocou uma das maiores reações públicas já registradas entre militares da ativa e da reserva nas redes sociais.
Em evento ecumênico em São Paulo, Maria Elizabeth afirmou, em nome da Justiça Militar da União, pedir perdão “a todos que tombaram e sofreram lutando pela liberdade no Brasil” e citou nominalmente Vladimir Herzog, Rubens Paiva, José Dirceu e outros nomes ligados à resistência ao regime militar. A ministra declarou:
“… Peço perdão à sociedade brasileira e à história do país pelos equívocos judiciários cometidos pela Justiça Militar Federal em detrimento da democracia e favoráveis ao regime autoritário.”
A declaração teve forte repercussão, especialmente após a resposta pública do ministro do STM brigadeiro Amaral, que, durante sessão plenária ocorrida em 30 de outubro, expressou sua total discordância com o gesto da presidente do STM.
A fala do ministro Amaral: “não faça em meu nome”
Durante a sessão, o ministro afirmou que a presidente não possuía autorização para se manifestar em nome da corte, pedindo que suas palavras fossem registradas em ata:
“Venho neste momento manifestar minha preocupação com recente pronunciamento de excelentíssima senhora presidente em evento havido no último final de semana (…) quando investida na qualidade de presidente da Justiça Militar da União pediu perdão a inúmeras pessoas por eventos acontecidos na história desse país. (…) Expresso, no entanto, a minha total discordância quando falo em nome do nosso tribunal o que inclui este plenário e, obviamente, me inclui. Registro que não lhe outorguei mandato e nego essa delegação agora.”
O ministro prosseguiu, enfatizando:
“Pode falar o que quiser, pode pensar o que quiser. Eu só não gostaria que o fizesse em nome do Superior Tribunal Militar, porque isso inclui o plenário, e eu particularmente discordo do conteúdo daquilo que foi manifestado.”
A fala foi encerrada com registro em ata, selando uma das raras manifestações públicas de divergência interna dentro do STM, uma das instâncias mais discretas do judiciário brasileiro.
Apoio esmagador dos militares ao ministro Amaral em redes sociais
Uma análise realizada pela Revista Sociedade Militar sobre 123 comentários publicados em menos de 4 horas no perfil no Instagram mostra que 78% dos comentários manifestaram apoio direto ao ministro Amaral, 14% criticaram ou ironizaram a fala da presidente Maria Elizabeth e somente 8% apresentaram posições neutras ou conciliatórias.
Os dados indicam uma interessante onda de solidariedade e identificação do público militar com o discurso de Amaral, interpretado por muitos como uma reação legítima à “politização” da Justiça Militar.
Entre as manifestações de apoio mais destacadas estão:
“Parabéns, Ministro C. Amaral.” (@eliangfjfgjnoco)
“Esse aí tem meu respeito!” (@roggjfgj6)
“Perfeito pronunciamento!” (@lioçkfrto)
“Um verdadeiro oficial!” (@bgfjfgj)
“Ministro macho!” (@abeertpio)
“Esse oficial foi no ponto!! Pedir desculpas pelo o quê!?” (@joasfdgvhdas)
Outros usuários foram além, transformando o episódio em símbolo de resistência institucional. O perfil @rejhlhut escreveu:
“Ainda bem que ainda tem homens que honram a farda que usam e estão embutidos de grande autoridade.”
O usuário @fuznavwagnercoelho, identificado como fuzileiro naval, questionou a seletividade moral do pedido de perdão:
“Perdão a criminosos? Entendo que muitos pais não gostaram de estar na pele de pais destes bandidos, porém muitos curtem a grana oriunda da atividade criminosa. (…) Será que a ministra teria essa compaixão com um suboficial que participou do 8 de janeiro e foi condenado para o resto da vida?”
O comentário recebeu dezenas de respostas de apoio e se tornou um dos mais curtidos da postagem.
“Toda generalização é burra”: subtenente reage de forma dura
Um dos comentários mais extensos e repercutidos foi o do subtenente Everton, que defendeu a honra das Forças Armadas e criticou o viés histórico da imprensa e da classe política ao tratar do regime militar:
“Toda generalização é burra, diz um ditado popular. Ficamos décadas em silêncio. Fomos e somos massacrados diariamente pela imprensa que se diz de esquerda, mas é oportunista. (…) Precisamos lembrar que nem todos os militares de hoje cometeram e cometem erros. (…) Falou em farda, ‘porrada neles’! Chega! Cansamos! Precisamos reagir! …”
O posicionamento foi amplamente elogiado por outros perfis militares, como @dzxfawig (“Concordo! Ótimos pontos!”) e @acxxxac (“Concordo plenamente com sua excelente explanação”).
Críticas severas à presidente do STM Maria Elizabeth
A maioria dos comentários que se referiram diretamente à ministra presidente foram de caráter crítico ou irônico, apontando suposto alinhamento ideológico à esquerda.
“Isso que dá colocar uma militante de esquerda no STM. Levou um belo aperto.” (@esfsflva)
“A presidente do STM faz parte da extrema-esquerda radical e não deveria estar à frente de um tribunal respeitável.” (@maasdts)
“Tome, presidenta! Poderia ter ficado calada e sem essa, mas como ignora completamente a História do Brasil, pegou uma boa bordoada.” (@aghjkc)
“Mandou a real na face da indicada do Zé Dirceu.” (@rayuifo)
“Essa presidente é péssima! Funcionária do PT!” (@aleSsesgsira)
Outros comentários usaram termos duros para descrever o contexto político da indicação da ministra, afirmando que “a Justiça Militar está sendo aparelhada” ou que “a esquerda tenta desmoralizar as Forças Armadas”.
Posições neutras e divergentes
Entre os poucos comentários de caráter equilibrado ou reflexivo, o de @ccccvbgus chamou atenção:
“O pedido de desculpas feito pela ministra presidente a meu ver em parte procede, mataram inocentes, militantes, em defesa do poder. Isso deve servir para avaliarmos o triste passado da ditadura.”
Esse e outros comentários minoritários representaram menos de 10% do total e não geraram grande engajamento, reforçando a dominância do discurso de apoio ao ministro Amaral.
Significado político e institucional da situação ocorrida no Superior Tribunal Militar
A reação pública perpetrada pelo tenente-brigadeiro do ar Carlos Augusto Amaral Oliveira ao pronunciamento revelou mais do que uma divergência entre dois ministros, mostrou um racha ideológico dentro da extremamente blindada Justiça que tem a função de julgar os militares da Marinha, Exército e Aeronáutica.
De um lado, Maria Elizabeth propôs um gesto de reconciliação histórica, evocando os ideais de memória e reparação. Do outro, o brigadeiro Amaral se posicionou como guardião da neutralidade institucional, rechaçando o que muitos interpretaram como uma tentativa de “politização da farda”.
A análise de sentimentos dos comentários nas redes evidencia a leitura dominante entre militares e simpatizantes: o ministro foi visto como voz da autenticidade institucional e defensor da honra das Forças Armadas. A presidente, em contrapartida, foi associada à “lacração política” e à “releitura ideológica do passado”.
Nas palavras de um seguidor identificado como @rogexcsdwfd6:
“Esse aí tem meu respeito!!!”
E, entre o perdão e a resistência, o STM viveu um raro momento de exposição pública, em um momento complicado para as Forças Armadas, quando diversos oficiais generais enfrentam processos judiciais, com alguns já condenados, percebe-se o mais poderoso tribunal militar do país dividido.
