Nem o ex-presidente, nem o atual, têm o que comemorar no noticiário desta semana

Jair Bolsonaro e Lula enfrentam dissabores no noticiário desta semana. | 📷 Fotomontagem: Blog Du Souto
Nem o presidente Lula nem seu antecessor Jair Bolsonaro têm o que comemorar numa semana de feriadão branco, em que as cúpulas dos três poderes estavam fora do País e a Câmara e o Senado continuavam dormitando, mas as notícias não pararam de sair aos borbotões. Más notícias. E para ambos, ou criadas por ambos.
Lula não cansa de dar munição aos adversários e inimigos e não foi diferente nessa última viagem internacional, quando se misturou na Rússia ao que há de pior entre ditadores mundo afora e estragou os êxitos na China ao derrapar no TikTok, no voluntarismo de Janja e na própria ideologia.
Bolsonaro está cansando com sua estratégia de lives, enfrenta a desenvoltura dos seus concorrentes à direita e não resiste a novos vídeos sobre a tentativa de golpe nem às provas de que as denúncias sobre o esquema grotesco de corrupção contra aposentados e pensionistas do INSS vêm desde o segundo ano do seu governo, 2020.
E, assim como a prisão e a tornozeleira de Fernando Collor trouxeram de volta mensalão, petrolão e a palavra “corrupção” dos governos de Lula, a condenação da deputada Carla Zambelli a dez anos de prisão e perda de mandato por invasão do sistema de internet do Conselho Nacional de Justiça, para a inclusão de documentos falsos, reacende o caráter e o estilo bolsonarista, ou de bolsonaristas, no poder.
Lula poderia ter comemorado fartamente a promessa da China de R$ 27 bilhões de investimentos no Brasil e de R$ 54 bilhões na América Latina e no Caribe, para duas áreas estratégicas, tecnologia e infraestrutura. Mal deu tempo, depois que Janja aproveitou um jantar diplomático bilateral para cutucar o líder chinês Xi Jinping por causa do TiKTok. Ninguém mais falou de investimento, tecnologia ou infraestrutura, só de Janja e TikTok.
Na entrevista final da viagem, lá foi Lula matar no peito e dar sua versão de que não foi sua mulher, mas ele próprio, quem puxou o assunto TikTok no jantar. Ele também disse que Janja, como uma criança, pode falar o que quiser, na hora que bem entender. Inclusive num jantar entre chefes de Estado, com os interesses nacionais em jogo? Há controvérsias.
Se a coisa já não estivesse feia, Lula tratou de piorar tudo, ao abrir uma onda de intrigas e fofocas sobre quem vazou as intimidades do banquete e anunciar um absurdo constrangedor: o pedido a Xi Jinping para enviar o especialista chinês para discutir a regulação das redes sociais no Brasil. A oposição brasileira agradece. O regime chinês não tem especialistas em regulação, só em censura. Eu mando, o povo todo obedece e ai de quem não obedecer.
Bolsonaro, porém, não tem o que comemorar, depois do envio ao STF de gravações do policial federal Wladimir Soares, já denunciado, dizendo-se pronto para “matar meio mundo” na tentativa de golpe de Estado, elogiando a adesão da Marinha e condenando o não do Exército à aventura.
E vieram as provas de que a Polícia Civil do DF já investigava a roubalheira no INSS desde 2020 – no governo Bolsonaro – e a Polícia Federal entrou no caso no mesmo ano, inclusive com a denúncia de um funcionário do órgão de que fora mudado de área e passara a receber ameaças de morte após confirmar o esquema.
A notícia reforça a declaração do ministro Márcio Macedo, da Secretaria Geral da Presidência, ao “Correio Braziliense”: “A fraude não começou neste governo, mas vai acabar neste governo”. Será que o deputado-ator Nikolas Ferreira vai gravar novo vídeo botando as coisas no devido tempo? E a CPMI do INSS protocolada por bolsonaristas vai mesmo adiante? Ou vai repetir a do 8/1, que mirou em Lula e acertou em Bolsonaro?
Por Eliane Cantanhêde/Estadão