OPINIÃO - Camisa vermelha na seleção? Don’t do it, CBF!

Nada contra trocar de camisa, desde que se vista algo que tenha a ver com a única pele do torcedor


Excelente ideia a camisa dois da seleção brasileira ser vermelha na Copa dos Estados Unidos, com a marca e a imagem de Michael Jordan no lugar da Nike! Make Brazil great again!

Tão grande sacada como será a seleção dos Estados Unidos na Copa do Mundo feminina em 2027, aqui no Brasil, atuar de camisa amarela em homenagem ao país-sede. Com a imagem da Marta. Ou de Pelé. Eu aproveitaria e renomearia a Baía da Guanabara para Baía da América (ou Baía do América do Rio, para disfarçar um pouco... Ou mesmo renomear a Lagoa Rodrigo de Freitas para Lagoa Azul. Ou Brooke Shields. Quem sabe?

Isso não vai acontecer no Mundial feminino em 2027? Puxa vida...

Bonito, histórico e culto fazer alusão ao pau-brasil que nos batizou na suposta nova camisa vermelha da seleção. Mas quando se precisa explicar tanto uma cor adotada é que a sacada não foi tão bem sacada, ou tão popular e simples como deve ser... E quando um país já se divide politicamente pelo uso das próprias cores, melhor seria evitar novas polêmicas polarizadas...

Boa sacada desse pessoal de marketing da Nike. Ótima ensacada da CBF para vestir a nova casaca. Para que, não é, repetir o manto azul campeão mundial em 1958 com Pelé, Mané, Nilton e Didi? Se tem Didi no time, tem que ter Trapalhões, não é? Então vamos bolar algo bem tolo só para aparecer: que tal usar uma cor de camisa que não tem numa bandeira com quatro cores! Bem bolado! Ainda mais para a seleção mais vezes campeã do mundo! E ainda mais para acirrar os grupos de WhatsApp e as teorias conspiratórias?

Nada contra terceiro uniforme. Mas é duro aposentar o segundo. Sei que a Alemanha muda a segunda camisa usualmente nas últimas Copas como quer. Algumas são lindas. Mas lá já virou tradição. Aqui até pode ser. Só que qual seria a motivação para descartar justamente uma camisa campeã? E, para o meu gosto, justo a mais bonita, a azul.

Camisa também é superstição desde antes de Charles Miller chegar com bolas e um conjunto delas ao Brasil, em 1894. Por isso inventamos a amarelinha depois do Maracanazo de 1950, com a funesta camisa branca defenestrada em 1954. Mas, agora, mais de 70 anos depois, para que mudar assim?

A moda é dinâmica. A Nike quer mesmo fazer moda e espuma. Mas para que mudar em seleção que está ganhando - ainda que não vença há 23 anos? Mudar para pior ou para não resgatar a história é como fazer moda reinventando calça boca de sino e salto carrapeta dos amos 1970. Melhor ficar na memória perdida. Não em mais uns jogos e tempos perdidos.

Pode até pensar em terceiro uniforme. Mas não esquecer os dois pentacampeões. Tradição se veste e investe. Camisa é a única pele. A que marca. Não a que a marca paga pra marcar como gado.

Não é só just do it porque está no contrato bilionário. É don’t do it porque está no contato com a torcida que não tem preço. Apenas valor e história.

Por Mauro Beting/Estadão
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